ONDE ESTARÁ A IGREJA DE CRISTO?

A cada dia tenho preocupadamente percebido tamanho distanciamento do "evangelho das mídias" com o evangelho de Cristo.

O "cristianismo" do século XXI está se distanciando e muito do Jesus da Bíblia, da vida apostólica e dos discípulos do sermão do Monte. Com isso, uma grande onda de gente perdida e confusa tem anunciado inúmeras atrocidades em nome de um Jesus que não conheceram. Tenho visto declarações de ódio em nome de Jesus, de ignorância e de descaso com a causa maior de termos sidos escolhidos para a Seara. Pessoas cada vez mais insensíveis, desaforadas, arrogantes e precipitadas nas palavras, com muita leitura inútil e pouco conhecimento Bíblico.

Cristãos racistas, homofóbicos (na correta e coerente utilização do termo), preconceituosos, murmuradores, rebeldes, insubordinados, carregados de ódio, mágoa, rancor e incredulidade, termos tão antagônicos a quem se declara discípulo de Cristo, revelando total incoerência e mancha no testemunho dAquele que se entregou na Cruz em favor da humanidade.

“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (1 João 4:20,21).

Espanta-me esse vergonhoso crescimento da “religião” (no sentido mais pejorativo da expressão) cristã, que cresce e se desenvolve sem raízes, tal como a casa edificada sobre a areia.

Um cristianismo sem conversão, sem experiência espiritual, jamais será cristianismo. Por isso tantas pessoas apostatando da fé. Uma fé, porém, sem substância, fruto da religiosidade doutrinária, não de um novo nascimento.

A institucionalização do cristianismo e sua transformação midiática em nome de uma prosperidade que se assenta em bases distorcidas da hermenêutica bíblica com o único intuito de se obter enriquecimento ilícito e status social tem sido mais danosa do que as pragas do Egito.

O que aconteceu com a simplicidade do evangelho? Onde estão as pessoas que se preocupam mais com as coisas do céu do que com as coisas da terra? Que se preocupam mais com pessoas do que com coisas?

Estamos vivendo um cristianismo capitalista onde servir a Deus se tornou motivo de barganha e atalho para uma falsa prosperidade. Perdemos o real conceito de vida próspera, iludidos pela luxúria e pela lascívia. Pessoas que jamais foram transformadas pela Palavra falando em Nome de um Deus desconhecido.

E o resultado não poderia ser mais desastroso: pessoas machucadas, frustradas, desiludidas, afastadas de Deus e do Seu Amor pela exposição e compreensão equivocada de um Reino que não pertence ao Céu, senão a esse mundo e ao próprio ventre.

Temos dado lugar ao misticismo religioso, simpatias, mantras e até maldições e ameaças em nome, na verdade, de si mesmo, querendo atribuir a Deus nossos devaneios.

Essa, todavia, não é a primeira vez que a Igreja se esfria e se contamina com o profano. Inúmeras vezes em que Deus precisou avivar sua Obra, fazendo com que Seu povo passasse por longos períodos de deserto e perseguição, até que se arrependessem dos seus maus caminhos. Um longo período de trevas, até que alguém tomasse alento, rasgasse suas vestes e se humilhasse perante o Criador, clamando por perdão e misericórdia ao Seu povo que rotineiramente erguia - e ainda ergue- seus bezerros de ouro para se curvar e adorar.

Estamos nos esfriando e não estamos percebendo. Estamos acomodados em nossa zona de conforto quando deveríamos estar guerreando contra as hostes espirituais nas regiões celestes, inconformados com o jeito que o mundo está, e falo como quem se inclui nessa realidade.

“[...] e não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Romanos 12:2)

Perdemos a faculdade de ser cristão sem ser religioso, de ser discípulo de Cristo no meio de pessoas que não O conhecem. Perdemos a pureza de viver sem precisar falar ou provar o que somos e o que temos experimentado da parte de Deus. Por quê? Porque quem muito fala pouco vive. Perdemos a habilidade de pregar sem falar, sufocar e impor.

Não, eu não vejo – ou muito pouco vejo – cristianismo no meio político, nas redes sociais, nos cultos televisivos, nas rádios, nas esquinas, nas praças ou nos ônibus. Vejo religiosidade, vejo a comercialização da fé, vejo o abuso da liberdade de crença para atacar, agredir e afastar as pessoas de Cristo. Vejo um evangelismo voltado para a instituição religiosa, para arrecadação de fundos e de números de membros.

Também não tenho visto cristianismo nos lares, no ambiente de trabalho, na escola ou faculdade. Antes, disputas de ego, de quem sabe mais, de quem tem a razão, de quem é o dono da verdade, da última palavra, o mais espiritual, o mais sábio ou o mais santo. Discussões inúteis e infindáveis, nada produtivas, senão para dar mal testemunho aos que ouvem.

Não foi assim que aprendi na minha conversão. Não foi com isso ou por isso que me tornei cristão. Tornei-me porque um dia eu senti a necessidade de saber minha identidade e meu propósito existencial. Tornei-me porque sentia falta de intimidade com um Deus que eu conhecia muito pouco. Tornei-me pela necessidade de ser preenchido e pela necessidade de ser socorrido. Busquei-o até encontrar.

“Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração” (Jeremias 29:11-13).

Não me tornei cristão com a promessa de uma vida fácil, de riquezas ou de imunidade às adversidades da vida. Graças a Deus isso nunca me foi oferecido e, se o fosse, esse jamais fora o meu desejo maior. Muito pelo contrário, minha fé fora provada ao extremo nas inúmeras provações e tribulações que eu passei, achando que, por ser cristão não as passaria. Aprendi a ser cristão sem qualquer moeda de troca.

“Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação” (Habacuque 3:17,18).

Na caminhada da fé passei as maiores provações da minha vida. No meu momento de maior intimidade com Ele, passei muitas necessidades, juntamente com minha esposa. Fui acometido com muitas enfermidades e inúmeras vezes humilhado por passar por tantas adversidades sendo cristão. Mas a minha fé estava alicerçada na Rocha e me sustentava em todas as minhas angústias. Porque eu conhecia a Quem eu servia e entendia perfeitamente que o Caminho era apertado, cheio de espinhos, e poucos são os que conseguem passar por ele.

“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).

Aprendi lendo diariamente a Bíblia e nela meditando, conversando com Deus no recôndito do meu quarto, clamando, chorando, me humilhando e contemplando o Seu Amor e cuidado.

“Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração. [...] Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra” (Salmos 119:2 e 9).

Meu conhecimento era fruto de muita leitura e de experiência real com Deus. O que Dele sei não aprendi na faculdade, numa instituição, num livro de autoajuda ou nas irritantes correntes das redes sociais, mas na experiência de caminhar com Ele e com pessoas cujo coração se voltara exclusivamente a Ele.

“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Oséias 6:3).

Mas o que vejo hoje são pessoas falando de algo que nunca experimentaram ou que há muito deixaram de experimentar. Conhecimento raso, falacioso, eivado de misticismo e infantilidade. Pessoas tão carentes de um toque divino que até o inventam para acalentar suas almas vazias.

Eu sei, e estou certo disso, de que Deus ainda avivará a Sua Obra novamente, provando e purificando a Igreja no fogo, como o ouro. Sem perseguição a Igreja não cresce ainda que seus templos estejam lotados.

Onde estará a Igreja de Cristo?

“[...] aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida [...]” (Habacuque 3:2b)



Leandro Dorneles

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